Optchá meu Povo Cigano!!

Optchá meu Povo Cigano!!
Fatima Silva Amaya

Gitana Fatima Silva Amaya

14 de abril de 2011

Ciganos



Quem terá, pela primeira vez, chamado um cigano por este nome? E, no que se inspirou para dar-lhe o nome de cigano no sentido de querer identificar-lhe a raça e a origem?
A palavra cigano não existe no idioma romani. E em definitivo, no Congresso Mundial que reuniu centenas e centenas de ciganos de todas as partes do mundo, acontecido em Roma, em 1971, ficou estabelecido que este povo nômade, de pele morena, deveria ser chamado de Rom, que em romani quer dizer homem. As mulheres, são romís e o plural de rom é romá. Portanto, os romá não querem ser ciganos, mas aceitam ser identificados como ciganos, na maioria dos casos. Mesmo porque aqui no Brasil nunca se teve registro de uma perseguição que se igualasse a dos reis católicos Isabel e Fernando de Espanha, ou de Franco e Hitler. Com todos os problemas brasileiros, aqui os romá tem um território mais livre e são melhores aceitos. Hoje em dia ser rom/romí é poder viver nas estradas ou nos apartamentos e continuar preservando a tradição.
Portanto, os nomes ciganos - gitanos - tsiganes-zíngare são apelidos para os romá ou romanís, dados pelos não ciganos, principalmente no Velho Mundo Euro-asiático. E chamá-los de povo rom, manush ou povo romani é a denominação correta. Ambos os vocábulos são de origem sânscrita e, significam respectivamente homem ou pessoa, sendo que o nome Rom é mais comumente atribuído ao cigano de origem oriental, mais tradicionalista; e o nome Manush é a denominação mais comum aos que estão fixados na França, com hábitos mais ocidentais e também são conhecidos como Sinti. É assim que aceitam ser identificados.
Para os ciganos, todos os estranhos à sua raça são chamados de busné, payo ou gadjé, que em romani quer dizer literalmente aquele que não é cigano. Notamos que a denominação gadjé é a mais utilizada, principalmente nos países da Espanha, França, Itália, Portugal, Brasil e demais países de língua portuguesa.
No entanto, os gadjé, busné ou payos deram aos Ciganos muitos nomes diferentes. A principal delas - Cigano e suas traduções mais conhecidas - teria derivado do nome Atsinnganni , uma palavra grega para designar o praticante de uma seita mística, originária da Ásia Menor. Assim que tais praticantes começaram a aparecer no Império Bizantino, foram chamados de Atsinnganni, que na verdade quer dizer praticante de magia, mago ou bruxo. Diante do modo de vida e das tradições dos ciganos, foi fácil relacioná-los com este outro povo, também devido às práticas místicas pouco comuns, exercidas pelos ciganos e passadas de geração em geração.
Da palavra Atsinnganni, gadjés de vários países europeus, retiraram os diversos nomes que deram aos Ciganos. É claro que, nestes países, os Ciganos tiveram uma presença mais marcante e prolongada que nos demais: Egito, Grécia e Romênia e países dos Balcãs.
O pesquisador Olimpio Nunes, de Portugal, destacou em seu trabalho O Povo Cigano muitos dos nomes que se seguem. Podemos então comprovar a existência do radical do nome Atsinnganni, bem como sílabas transformadas pela acomodação lingüística no primeiro grupo de nomes:

Atsincani - Grécia
Tchinganie/Tchinghiani - Turquia
Tzigani - Bulgária
Zigani - Romênia
Ciganiok/Czygany - Hungria
Zingari - Itália
Cigano - Portugal/Brasil Cigan - Bulgária
Ciganin - Sérvia
Cygan - Polônia
Cykan - Rússia
Czygany - Hungria
Cigano - Lituânia
Zigeuner - Alemanha e Holanda
Zuygener - Alsácia
Zigenar - Suíssa e Alemanha
Cingan - França (anteriormente)
Tsigane/Gitanes/Bohemies - França
Zingano - Italiano
Ciganus - Latim medieval
2º Egitanos - Gitanos - Espanha
Egiptoi - Grécia 
Eugit - Albânia
Gitanes - França
Giptenaers - Holanda
Gypsies - Índia, Reino Unido 
Mustalaiset ou Romaanii - Finlândia e Suécia 
Observe os dois grupo anteriores. No primeiro, os nomes para a raça cigana vem de atsincani, cujo radical, sofreu sofreu algumas alterações que resultaram no nome cigano ou outros com o mesmo radical. No segundo grupo predominam os nomes que derivam de gipsy, cujo radical deu origem ao nome gitano e seus similares.
Mas freqüentemente, os Ciganos são confundidos com outros nômades com modo de vida semelhante no que se refere à maneira de se apresentar e morar, mas tratam-se apenas de grupos de pessoas sem qualquer referencial moral e ético, o que não é o caso dos Ciganos, que para se preservarem culturalmente, preferem estar com os seus, com que se relacionam sob a égide de um código moral e ético bastante rigoroso para os gadjés.
No entanto, os Ciganos também são comparados nos países europeus, a outros grupos nômades. Principalmente nos países em que a presença de estrangeiros é muito pouco tolerada. Por isso mesmo são identificados por nomes de outros nacionais, também repudiados em tais países:
Ismaelitas - Hungria e Romênia
Filistins - Polônia
Tártaros - Alemanha
Assírios e Etiópios - Inglaterra
Romanichels - França
Manouches - França
Húngaros - Espanha, Itália, Portugal e Brasil (anteriormente)
Errants - Países Árabes
De todas as denominações citadas acima, lidaremos com Cigano, que é a mais popular e mais comum às línguas neolatinas.
Dois grandes grupos ciganos formam a raça: os Rom (incluindo nesta denominação também os Sinti) e os Calé. O grupo Rom se subdivide em diversos subgrupos e clãs, identificados pela atividade profissional exercida. Distinguem-se entre si por particularidades pouco significativas, no que diz respeito a seus costumes ou aspectos de alguns rituais familiares, mas falam a mesma língua, porém com dialetos distintos.


(Texto extraído do livro I BARI GAVÉ - A Histórica Diáspora dos Ciganos da Índia ao Brasil - Mitos, Tradições e Cultura, de Sibyla Rudana)

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